sábado, 20 de novembro de 2010

sobre amor.

O amor é tão incompreensível quanto uma equação logarítmica. É mais fácil decorar todas as declinações do latim. Mais fácil aprender "japonês em braile". Porque entender o amor é entender o ser humano. E, na boa, isso nem Freud explica. Somos complicados, inconstantes, egoístas. Mas também somos frágeis, inseguros, inexperientes. Queremos só hoje. Queremos nos entregar. Queremos possuir. Queremos à nossa maneira. Queremos o que não temos. Queremos quem está ao nosso lado. Queremos quem está em outro continente. Queremos o óbvio. Queremos o impossível. E, muitas vezes, nem sabemos o que queremos. Porque amar não é saber, não é entender. O amor real é o sentimento mais imprevisível e imperfeito que existe. A maioria das pessoas não encontra seu par perfeito para ter uma vida conjugal linda e maravilhosa de comercial de margarina até completarem bodas de ouro. Sim, ele vai roncar. Sim, ela vai gastar muito. Sim, ele vai olhar pra outra. Sim, ela vai ter o dobro de celulite em dez anos e talvez não continue sendo tão maravilhooosa estéticamente. Sim, vocês vão brigar porque o carro apareceu arranhado. E vão ficar trocando acusações até descobrirem que o culpado foi o filho do vizinho de 5 anos com sua bicicleta. Mas a perfeição amor-alma-gêmea-príncipe-encantado-viveram-felizes-para-sempre é chata demais. Então, quem se importa? Alguém deixa de amar por isso? O amor também é perigoso. E adoramos correr esse risco. Como disse uma vez o Arnaldo Jabor, existe sexo seguro, mas não há camisinha para o amor. Não há como não arriscar. Não há como prever e planejar tudo. Não há como se proteger de algo desconhecido. Porque amar é ir ao cinema de mãos dadas. Mas também é achá-lo(a) lindo(a) acordando com a cara amassada e cheio(a) de remela. É gostar de estar junto só por estar junto: o amor não precisa de ações ou de palavras. Amar é correr na praia deserta em slow motion, em câmera lenta. Mas também é ter medo. É ter dúvidas. É tentar consertar as coisas. Mas também é fazer tudo errado. É chorar ouvindo música de dor de cotovelo. É romper barreiras. É achar que vai dar tudo errado. Mas também é quebrar a cara e continuar tentando. O amor não tem regra ou razão. Mesmo que dê tudo errado. Mesmo que dure pouco. Mesmo que nem comece ou que dure pra sempre. A única certeza é que, dentro de nós, temos todos os sonhos do mundo. Mesmo que eles não se realizem. Só esse desejo é suficiente. A graça está na viagem de ida, não só na chegada. Parece complexo, eu sei. Mas sua simplicidade está no sentir. Amar é amar e pronto. É assim, verbo intransitivo, e só.

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